segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Estudo da Doutrina - parte 03

Filosofia – Novos campos para o conhecimento

A partir do século VI a.C., surgia na Grécia uma nova maneira de propor e solucionar problemas, com a libertação das formas tradicionais de explicação da realidade, baseadas em crenças religiosas e apresentadas através de mitos. Essa nova maneira consistia no uso da razão para se descobrir a causa dos fenômenos. Começavam a surgir teorias que davam origem a todos os tipos de indagações, desde a origem do Universo, à natureza do homem, até as mais diversas atividades humanas, conduta moral, etc. Essa forma de pensar foi chamada de filosofia, que significa amor à sabedoria.
Na introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo, ele faz um resumo da doutrina desses filósofos, que admitiam a existência e a imortalidade do espírito, a reencarnação, a necessidade da prática do bem, etc. Não obstante o grande avanço da filosofia grega e das lições imorredouras do próprio Cristo, as grandes questões da alma permaneceram por muito tempo encobertas pelo véu do mistério e do dogma. Na Idade Média, quando a religião predominava, os valores da prevaleciam sobre a razão. Não que a humanidade deixasse de receber a contribuição de pensadores lúcidos. Mas, quando não eram envolvidos pela sociedade vigente, estes, muitas vezes, eram obrigados a silenciar. Alguns foram sacrificados em holocausto à verdade, seja no campo da religião, da filosofia ou até da ciência. Como consequência da libertação do pensamento nos tempos modernos, o homem passou a questionar os princípios filosóficos impostos de forma dogmática, considerados incontestáveis e indiscutíveis. De um lado, o ateísmo científico; de outro, a ilusão religiosa. O avanço alcançado pelas ciências, especialmente a Química, a Física e a Astronomia, o surgimento dos grandes pensadores nos séculos XVIII e XIX, concorreram para mostrar a fragilidade dos princípios defendidos pela Teologia. Da crença cega saltava- se para a negação absoluta. No campo materialista merece destaque o Positivismo, criado por Augusto Compte, que chegou ao exagero de afirmar que a ciência aposentara o Pai da Natureza e acabava de “reconduzir Deus às suas fronteiras, agradecendo os seus serviços provisórios”.
Foi nesse clima que surgiu a Doutrina Espírita, trazendo ao mundo a explicação lógica para os grandes enigmas da vida, da morte, da sobrevivência, da dor, etc. As bases da Doutrina Espírita foram estabelecidas por Allan Kardec através da análise e seleção das comunicações dos espíritos, usando os critérios da universalidade e concordância do ensino dos espíritos, à luz da razão. Como não poderia deixar de ser, o Espiritismo é uma doutrina de livre exame, propugnando pela fé raciocinada. No capítulo XIX de O Evangelho Segundo o Espiritismo, Kardec diz-nos que “Fé inabalável só o é a que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da humanidade”. Nascia uma nova filosofia, estribada na ciência, cujas consequências morais, do mais alto alcance, preparam a humanidade para uma nova era, em que os valores espirituais preponderarão sobre os valores materiais. A filosofia espírita está consubstanciada em O Livro dos Espíritos, obra apresentada por Allan Kardec como filosofia espiritualista.
Este livro divide-se em quatro partes:
1. Das causas primárias;
2. Do mundo espírita ou mundo dos espíritos;
3. Das leis morais;
4. Das esperanças e das consolações.
Essa obra enquadra-se numa das formas mais livres da tradição filosófica: o diálogo. Por conseguinte, todo o ensinamento é apresentado através de perguntas e respostas, seguindo-se, às vezes, alguns comentários do codificador (Allan Kardec). Como todas as partes do livro serão estudadas em outras aulas deste curso básico, deter-nos-emos aqui apenas a ressaltar alguns pontos da filosofia espírita, para darmos dela uma visão de conjunto. O Espiritismo mostra Deus, não pela imagem antropomórfica - feita à imagem e semelhança do homem - que faziam dele as religiões. “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”. O Universo define-se pela tríade Deus, espírito e matéria. A matéria, porém, não é somente o elemento palpável, havendo o fluido universal, intermediário entre o plano espiritual e o plano material. “Tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até ao arcanjo, que também começou por ser átomo”, como vemos na resposta à questão n.º 540. Para chegar à perfeição, terá que passar pelas provas da existência material, através do mecanismo das reencarnações, ao qual se associa a lei de causa e efeito, que permite ao espírito compensar a sua própria consciência dos erros passados, à medida que o seu progresso lhe permite estabelecer a diferenciação entre o bem e o mal. As condições de vida após a morte do corpo físico são estudadas com detalhes, ressaltando desse estudo o processo natural de aprendizado do espírito, através da experiência. A morte, simplesmente, não o liberta das paixões, dos vícios, da ignorância, como também não define o seu futuro, como ensinava até então a Teologia. Cai por terra a falsa concepção de inferno, céu e purgatório.
Podemos dizer que a Doutrina Espírita se resume nos seguintes princípios fundamentais:
1. Deus;
2. Espírito e a sua imortalidade;
3. Comunicabilidade dos espíritos;
4. Reencarnação;
5. Pluralidade dos mundos habitados;
6. Leis morais.

Fonte: Associação de Divulgadores de Espiritismo de Portugal (ADEP)

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